"Os homens fazem a sua própria História, mas não a fazem como querem, não a fazem sob circunstâncias de sua escolha..." (Karl Marx). Em Marx, a transformação do mundo implica a destruição de toda a ordem passada e a criação de "algo que jamais existiu".
Para entender a visão da História que a frase propõe é preciso lê-la inteira, em seu contexto, no livro de Marx 'O Dezoito Brumário de Louis Bonaparte.'
Nele, o pai do comunismo analisa a Revolução de 1848, na Europa: "Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circustâncias de sua escolha, mas sob aquelas circunstâncias com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado".*
Marx afirma claramente:"As revoluções anteriores tiveram de lançar mão de reminiscências da história universaL para se iludirem quanto ao próprio conteúdo , mas a revolução social do século XIX não pode iniciar a sua tarefa enquanto não se despojar de toda veneração supersticiosa perante o passado. A revolução(...) não pode tirar sua poesia do passado, e sim do futuro".
Para o pai do materialismo histórico, o passado (ou melhor, a tradição de todas as gerações mortas) "oprime o cérebro dos vivos como um pesadelo". Em Marx, atransformação do mundo implica a destruição de toda a ordem passada e a criação de "algo que jamais existiu".
A implantação do mundo novo - ou seja, da sociedade comunista, sem classes - impõe, inevitavelmente, uma ruptura total com o passado. No nosso caso, com toda a tradição que fundamenta a civilização ocidental cristã. Mas, que mundo é este em que teremos de negar e destruir tudo o que somos? Por que destruir a herança cultural da filosofia grega, do direito romano e da moral judaico-cristã? Nós, ocidentais, somos isto!
Imaginando que Marx (ainda) não é Deus, ele não pode - nem ninguém pode - mudar a constituição íntima da matéria nem provocar uma mutação radical do genoma humano, transformando o mundo e o homem em "algo que jamais existiu" .
Logo, se a transformação não é a do mundo físico, terá de ser a da alma humana (chamada por Marx consciência e determinada pela esfera econômica da vida). Quando o homem transformar a sua alma (ou consciência), depois da aniquilação da sociedade de classes, então Marx será Deus.
*(Os itálicos são meus).
*(Os itálicos são meus).