(Artigo escrito no dia 11 agosto de 2006, às vésperas da eleição para Presidente da República, com os candidatos Lula e Geraldo Alckmin. Basta trocar Lula por Dilma e Alckmin por Serra, continua atual)
"Lula mostrou na entrevista ao Jornal Nacional o que ele realmente é: Precário Imoral. O candidato Geraldo Alckmin esteja atento: a questão central desta eleição não é a economia, é a moral. Claro, há que se dar um jeito na economia; existem outras maneiras mais competentes, mais eficientes e mais experientes de se conduzir a política econômica, com resultados mais justos para os trabalhadores e produtores. Mas, numa economia globalizada como a de hoje, não é possível mudar rápido nem produzir resultados diferentes e assombrosos de uma administração para outra. Todos sabemos disto. Lula manteve, em linhas gerais, a política econômica de FHC, não foi? Logo, o grande diferencial é no aspecto moral e ético.
Antes de mais nada, a honestidade. É simples: “não roubar e não deixar roubar”, aquela máxima que José Dirceu, na maior sem-vergonhice e cara-de-pau, ousou bradar como marca do governo Lula quando foi confrontado com as provas de que estava metido no 'valerioduto' e no esquema podre do mensalão.
Chega de leniência e de flacidez moral com qualquer desonestidade, muito menos com "aquelas coisas" que os políticos e homens públicos sempre fazem: caixa dois, licitação viciada para favorecer financiadores de campanha, propinas y otras cositas más. Quando se toleram "estas coisas de sempre", chega a hora em que um sujeitinho sem escrúpulos como Lula rompe os limites e dá o salto qualitativo, partindo de vez para a obscenidade moral. Com Lula, foi demais. Foi além da conveniência. Paulo Honório, a personagem de São Bernardo, de Graciliano Ramos, dizia que tinha aprendido aritmética para não ser roubado além da conveniência. Pois é, Lula quis e deixou roubar além da conveniência.
Tem mais. Não adianta empurrar com a barriga e fazer de conta que "certos assuntos" serão discutidos "depois". Durante a campanha, Alckmin terá de assumir claramente o que pensa, por exemplo, sobre o aborto. Dizer que é contra o aborto, exceto "nos casos previstos pela lei" (estupro e risco para a vida da mãe) equivale a ser a favor! Não existe NENHUM caso em que o aborto seja admissível. É assassinato de um inocente, ponto final.
Até aquela besta - o australiano Peter Singer, pai do 'especismo', que considera um tipo de 'racismo' afirmar que o homem é superior a outras espécies - não vê "nenhum problema em dizer que, a partir do momento da concepção, um embrião é um ser humano vivo. Singer pergunta:
"O que mais poderia ser? O erro que muitas pessoas fazem é supor que 'porque' ele é um ser humano ele tem o direito à vida, ou que é errado destruí-lo".
É com gente desta laia que Geraldo Alckmin vai se aliar?
"O que mais poderia ser? O erro que muitas pessoas fazem é supor que 'porque' ele é um ser humano ele tem o direito à vida, ou que é errado destruí-lo".
É com gente desta laia que Geraldo Alckmin vai se aliar?
Li que, além dos "casos previstos", o candidato tucano acha possível estender a permissão do aborto para casos de anencefalia. Vai ser assim mesmo? Pouco a pouco? Até, quem sabe, chegarmos a permitir aborto porque a decoração da casa foi afetada pela colocação de um beliche no quarto para acomodar mais um filho. Sabem como é, Mulheres pelo Direito de Decidir! Se "elas" decidirem que a decoração da casa não deve mudar, o Estado tem de garantir o seu direito de abortar.
Geraldo Alckim vive enfatizando que não é igual a Lula. Eu também acho que não é. Mas o candidato tem de mostrar que não é. Lula eu sei o que vai fazer. Basta ler documento do PT, intitulado “Diretrizes para a Elaboração do Programa de Governo do Partido dos Trabalhadores (Eleição presidencial de 2006)”, aprovado no dia 22 de maio de 2005, em seu 13º Encontro Nacional. Trata-se de um documento oficial, e não apenas da opinião particular de um ou outro membro do Partido. Diz o documento:
"O segundo Governo deve consolidar e avançar na implementação de políticas afirmativas e de combate aos preconceitos, à discriminação, ao machismo, racismo e homofobia. As políticas de igualdade racial e de gênero e de promoção dos direitos e cidadania de gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais receberão mais recursos. A Secretaria Especial de Mulheres, a Secretaria de Promoção de Políticas para a Igualdade Racial e o Programa Brasil sem Homofobia serão fortalecidos, influenciando e dialogando transversalmente com o conjunto das políticas públicas. O Governo Federal se empenhará na agenda legislativa que contemple as demandas desses segmentos da sociedade, como o Estatuto da Igualdade Racial, a descriminalização do aborto e a criminalização da homofobia" [destaque nosso].
Outro assunto que não pode ser deixado para depois é a união civil de homossexuais, ou o 'casamento gay'. É preciso lembrar que, na Espanha, as mudanças na legislação já aboliram a família. Desapareceu juridicamente a figura do pai e da mãe. O casal não é mais "marido e mulher". Tudo começa com um contrato, até chegar à abolição da família.
Será que o católico Geraldo Alckmin vai subir em cima de trens elétricos em parada gay, imaginando que a família brasileira acha "irrelevante" ter um filho homossexual? Ou pensando, por acaso, que os pais brasileiros darão "o maior apoio" à opção sexual de seus filhos por parceiros do mesmo sexo, sob a alegação que "o importante é o amor?"
Quanto à bandidagem, melhor reexaminar o Estatuto da Criança e do Adolescente, adequando as punições previstas à gravidade dos delitos cometidos pelos menores infratores. Outros Champinhas e Batorés? Never again, mai più, de novo, não!
Enfim, não adianta querer resolver a crise moral do Brasil decidindo se libera a taxa de juros ou controla a inflação. É só prestar atenção, a discussão da campanha presidencial é (quase) só essa. Papo de superavit, de meta inflacionária, número de dívida pública, taxa de juros, geração de emprego etc etc. Cá para nós, hoje o presidente da República é praticamente o ministro do dinheiro. Ele (ad)ministra um orçamento. O resto é mídia e metáfora.
Parafraseando a célebre frase "É a economia, estúpido!" da campanha vitoriosa de Clinton contra Bush pai, só nos resta bradar a plenos pulmões: "É a moral, estupido"
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